"E, nos murmúrios do vento, vão-se os meus silêncios"" (Sonya Azevedo)

 

segunda-feira, 27 de maio de 2019

Retirante


Retirante 

Ah! Terra craquelada, ressequida!
Arde o céu, queima a mi'a pele, os meus olhos
Queima a esperança que arde nos cascalhos
Assim, também, está mi alma sofrida.

Pés rotos de lembranças doloridas...
Barraco em chão batido, pó, ciscalhos...
Ao cair da tarde, pança oca... engulhos
Ante a sopa, alguns grãos, pedra fervida...

Abutres, unos pássaros que voam
Neste sertão esquecido por Deus,
Onde nem suor há para se beber!

Volto os olhos às terras que nevoam
Da poeira seca; só digo adeus...
Quiçá volto um dia se, assim, Deus quiser!

(Sonya Azevedo)



Sombrinhas


 Sombrinhas

Choram os céus a ausência de sua cor
Perdida atrás do gris de tantas nuvens.
E, tentam dispersá-las, as aragens,
A que o dia brilhe e venha com frescor.

Mas seus prantos não findam... É só dor
Ver suas cores mostrando-se em desordens,
Em céu inverso, nos tons das miragens
De árvores caminhantes, multicor.

Ah! Céus e o pranto da insensatez!
 As cores deste céu feito inverso 
São pessoas que protegem a sua tez

Com sombrinhas em tons ah!..., tão diversos
Que alegram o gris do dia e, por sua vez,
Trazem ao chão, as cores do universo!

(Sonya Azevedo)


Dama da Noite


Dama da Noite

Ao entreolharem-se os girassóis
Hora entre luz e treva, última Thule, 
E antes que o vento, nos astros, circule,
Aquieto o cantar dos rouxinóis.

Sopro-te a brisa dos perdidos sóis,
Dos tantos luares, a que o rio ondule
Em direção ao sonho e o module
De esperança co' os novos arrebóis.

Dispo-me do negror, deixo-o à noite!
Visto-me do rubro aroma de rosas;
No silenciar das horas o convite.

E no teu sono, as tuas mãos formosas,
Seguro-as firme a que tu não cogites
Seguir-me rumo as estrelas anosas.

(Sonya Azevedo)




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