"E, nos murmúrios do vento, vão-se os meus silêncios"" (Sonya Azevedo)

 

terça-feira, 22 de abril de 2025

O Poeta


Há um mundo, o universo de um sonhar,
Onde sou Ícaro com seu par de asas,
Sobrevoando um delta de ondas rasas
Colhendo paetês para um versar!

E no silêncio, noites de um lembrar,
Frêmitos de um criar ardendo em brasas,
De um amor em mudez que tu me embasas
Com esse sempre tão voraz amar.

Tal um riacho doce, vem-me um verbo
Com seu tesouro oculto, fantasia,
Raridades de cunho tão soberbo

Que toca o coração, traz-me afasia...
Então co' os dedos d' alma, eu os averbo
Nas alvas folhas desta poesia.

(Sonya Azevedo)

 

Cheiro da Manhã




 Há um perfume no ar; despertador
Das sensações vindouras da manhã
Um desejo sem nome, um doce elã,
Que busca no teu corpo, o teu amor.

Como um vulcão ardente e sem pudor,
Liberto-me de todas crenças vãs.
Do prazer, torno-me um vero xamã
A te fazer voar tal um condor.

Então te peço: - só não te resguardes,
Deixa-me agir e, sem fazer alarde,
Vive os segundos de um mago momento.

Ó, brisa, ao tempo diga-lhe: - retarde;
Esse desejo é um segredo que arde
E nesse jogo não há lamento

(Sonya Azevedo)


sábado, 22 de março de 2025

Sabor de Poesia



Tem gosto de saudade beijando o ar,
Como também se tem de ver a lua...
Porém, mais que isso, é admirar-te nua,
Com todo o movimento deste amar.

E, assim, em relva de paixões e ousar,
Visto-me de esperança a que, em charrua,
Singre o mar de ilusão desta alma tua
E co' as benditas mãos, crie um rimar.

Num alvo lírio, sua doce fragrância,
Tento inalar os versos com que irei
Fazer no coração, esta alquimia.

E neste céu pairante de abundância
Dos magos pingos d'ouros do Ágnus-Dei,
Desnudo-me a viver-te, poesia.


(Sonya Azevedo)