"E, nos murmúrios do vento, vão-se os meus silêncios"" (Sonya Azevedo)

 

segunda-feira, 31 de julho de 2023

Violinos de Outono

Soluçam os acordes dos violinos
De outono. Triste música que o vento
Co' as folhas secas, seu soprar torvento
Espalha aos ares, seu olor campino.

Cheiro de Gaia em pranto bailarino...
As ramas do salgueiro, tão prevento
Penteia a cabeleira para o evento
Que se fará no manto coralino.

Os frageis passarinhos peregrinos
Silenciam-se pelo céu cinzento
Buscam nas folhas idas, o alimento
Que terão seus rebentos tão franzinos

A chuva cai.... Vem num pranto tão fino
Que ao riacho não dá crescimento.
E o violino sem conter tormento
Faz, desta triste sinfonia, um hino.


(Sonya Azevedo)


quinta-feira, 27 de julho de 2023

Gaiolas de Cacatuas

É manhãzinha e vem o burburinho
Errar na praça. São as cacatuas!
Aposentados vindos para as ruas
Trazendo suas vidas prum solzinho.

O árido prado rosa traz pinguinho
De suor, molha essas cabeças nuas
De fios que o tempo só, só acentua
Pondo na eira os nevados capinzinhos.

E o papo segue, jogam dominó
Cartas, e no silêncio de saudade
Rola na face o aljofar do temor.

É temor do amanhã, do estar tão só,
Da perda corriqueira de amizades,
Dos que se vão, deixando-os com sua dor.


(Sonya Azevedo)


quarta-feira, 28 de junho de 2023

Cantos da Manhã

Havia um canto... canto do alvorar!
E eu já acostumada me aprazia
Dos teus silêncios, dessa fantasia
Que, em seu corpo, fazia-se aflorar.

E os beijos? Impossíveis de contar!
No ímpeto, era o teu corpo a primazia
Do tudo o mais que a nós satisfazia
E o cuco anuía antes de cantar...

E, assim, se iniciava o nosso dia!
Té hoje esse cantar inda persiste
Mas, vazia, é a cama das saudades.

Hoje, meu canto é teu corpo em poesia,
Num alvorar cantante que inda insiste
Em me mostrar da vida, as brevidades.


(Sonya Azevedo)


terça-feira, 13 de junho de 2023

Soneto do Adeus

No ouvir um planc, senti a dor do adeus.
Uma porta que, aberta, se fechou...
O sonho de um viver que não vingou
E, dentro de mim, algo se rompeu.

Esta dor o meu peito não colheu;
Doou ao vento que às nuvens levou,
E, tanta foi a dor, que o céu chorou
E o luar, solidário... se escondeu.

Bate o relógio seus infindos pulsos
Que mais parecem secos e convulsos
Tais os ecos que invadem a minha alma.

O tempo traz-me o pranto que me acalma;
O espelho, as fortes mágoas que eu devasso
E a boca, o fel amargo do fracasso.


(Sonya Azevedo)


quarta-feira, 7 de junho de 2023

Verso Malandro

Verso Malandro

Sempre há um verso...verso mandrião
Que só desperta lá pro meio-dia
Às vezes não se encaixa na poesia,
Mas vem com uma ginga, o malandrão

Que tão logo conquista o coração.
E vem-me, assim, com muita cortesia,
Se achando parte dessa freguesia
Entrando nas estrofes de antemão

Quando eu percebo, já está sorrindo,
Citando verbos, vero fanfarrão!
Mas, vejo então, a poesia fluir,

Serena tal um barco que, partindo
Margeia os olhos desse coração,
Deixando-me, assim, plena em gratidão.


(Sonya Azevedo)


O Coreto

O coreto

Bem no meio da praça
Um patamar acima,
Cheio de sonho e graça
O coreto traz freima.

A pomba faz seu pouso,
No risco cimentado...
A senhora seu repouso,
No banco amadeirado.

São tantas as lembranças
Imensa é a saudade,
De um tempo de esperança
Que se foi com a idade.

Seu voo, a pomba alça...
Os vagos olhos sonham
Rumar co' alma descalça
Pra onde olhos não alcançam


(Sonya Azevedo)


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