"E, nos murmúrios do vento, vão-se os meus silêncios"" (Sonya Azevedo)

 

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Asas da Poesia


Asas da Poesia

Da pena que carregas nessas costas
Voam as letras de uma poesia.
São pássaros canoros que, de dia,
Cobrem a tua pele descomposta.

E o meu olhar, ante a visão tão exposta
Pelos cetins do amor e em covardia
A essa luxúria que me traz magia,
Cede ao desejo e com ardor se acosta.

Teu corpo nu, convite que me inflama,
Que arde as entranhas, que me silencia, 
É carne em verso onde o prazer se trama.

E quando, enfim, a noite se esparrama
Num véu de estrelas que o amor alumia,
Vejo em ti, pronta, a minha poesia.

Sonya Azevedo

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Suspiros

 


Suspiros

Lábios esmaecidos na aquarela
Do limiar: é dia dando adeus
Para a noite enlutar. Os louva-a-Deus
Pintam asas co' o douro de uma estrela;

E o pulular das ondas co' a branquela,
Pintam rastros no mar e os cimos seus.
E eu, com meus pensares já tão ateus,
Entrego-me ao luar pela janela.

Nesse paradisíaco cenário,
Caem suares da minha alma
Vadia - alma de artista, que desenha,

Que esculpe a vida em sacro relicário,
Que borda versos, que a saudade acalma
E que a Deus conta sobre minhas brenhas.

Sonya Azevedo

domingo, 27 de julho de 2025

A Flor dos Sonhos


A Flor dos Sonhos

Ó flor, que deixas grãos pelo caminho,
Na esperança de um dia florescer
Neste meu seio, em sombras a sofrer,
Sem braços, sem calor, sem um carinho.

Hoje há saudade, dor e desalinho,
Noite vazia, um cerne a esmorecer,
Chorando a ausência que insiste em doer,
No silêncio dos versos que eu escrevinho.

Ó flor, que à névoa agora te misturas,
E queres do lembrar, todo o apagar,
Arranca, pois, do seio mi' as agruras.

Co' a brisa foi-se parte de um sonhar;
Mas nova raiz brota e me assegura:
Outro tempo, outra flor a germinar.

Sonya Azevedo