"E, nos murmúrios do vento, vão-se os meus silêncios"" (Sonya Azevedo)

 

terça-feira, 26 de agosto de 2025

Dia de Chuva

 
Dia de Chuva

Ó gris celeste, que traz nostalgia!
És manto extenso, feito de algodão
A revestir, suave, o coração
Que, tão sensível, busca a poesia.

E ela me vem em gotas de anistia,
Remindo ausências. Tanta comoção
há, quando a chuva triste beija o chão,
Que os trovões calam-se por cortesia.

E criam-se silêncios pelo dia....
As aves se recolhem aos seus ninhos,
E a hora, com seu langor, traz calmaria.

E eu, co' a pena, também o pergaminho,
Rabisco versos té ter a alegria,
De seduzir a Musa pro meu ninho.

Sonya Azevedo

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Asas da Poesia


Asas da Poesia

Da pena que carregas nessas costas
Voam as letras de uma poesia.
São pássaros canoros que, de dia,
Cobrem a tua pele descomposta.

E o meu olhar, ante a visão tão exposta
Pelos cetins do amor e em covardia
A essa luxúria que me traz magia,
Cede ao desejo e com ardor se acosta.

Teu corpo nu, convite que me inflama,
Que arde as entranhas, que me silencia, 
É carne em verso onde o prazer se trama.

E quando, enfim, a noite se esparrama
Num véu de estrelas que o amor alumia,
Vejo em ti, pronta, a minha poesia.

Sonya Azevedo

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Suspiros

 


Suspiros

Lábios esmaecidos na aquarela
Do limiar: é dia dando adeus
Para a noite enlutar. Os louva-a-Deus
Pintam asas co' o douro de uma estrela;

E o pulular das ondas co' a branquela,
Pintam rastros no mar e os cimos seus.
E eu, com meus pensares já tão ateus,
Entrego-me ao luar pela janela.

Nesse paradisíaco cenário,
Caem suares da minha alma
Vadia - alma de artista, que desenha,

Que esculpe a vida em sacro relicário,
Que borda versos, que a saudade acalma
E que a Deus conta sobre minhas brenhas.

Sonya Azevedo